quinta-feira, 15 de maio de 2014

Reportagem

Alfabetização

Garantir que as crianças aprendam a ler e escrever assim que entram na escola é o seu grande desafio, professor alfabetizador. Para contribuir com o sucesso do seu trabalho, reunimos mais de 90 links com reportagens, entrevistas, vídeos e planos de aula sobre o processo de aquisição da língua escrita. Boa leitura e ótimas aulas!



 O NOME PRÓPRIO NA ALFABETIZAÇÃO


 

Um especial sobre o primeiro passo para ensinar a ler e escrever

Por que alfabetizar com nome próprio?

A importância de trabalhar com o nome para dar início às reflexões sobre o sistema de escrita na Educação Infantil

Maria. João. Antônio. Cecília. Fernanda. Imagine se não tivéssemos um nome. No meio de milhões de outras pessoas, como seríamos diferenciados? A importância dessa palavra levou muitos linguistas e antropólogos a acreditar que a escrita foi fonetizada por causa dos nomes próprios, uma vez que os pictogramas não davam conta de codificá-los e registrar a diversidade de indivíduos. Atualmente, é difícil conceber uma sociedade que não utiliza o nome próprio para registrar a diferença – e, por conseguinte, a identidade – de cada membro.
Diante disso, como pensar, então, numa forma mais significativa para dar início à alfabetização escolar?
Foram as descobertas sobre a origem e o desenvolvimento da escrita, conhecidos como psicogênese (leia mais sobre a Psicogênese da Língua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, abaixo), que evidenciaram os processos de aprendizado das crianças e questionaram os métodos tradicionais de alfabetização, baseados na cópia de famílias silábicas. Com base nos estudos da pesquisadora argentina, a criança se tornou protagonista da própria aprendizagem. Desafiada pelas atividades e pelas intervenções do professor, a criança investiga, testa ideias, repensa, corrige. Aos poucos, se apropria do sistema de escrita.
Na etapa inicial de alfabetização, o papel do professor é ampliar, de maneira significativa, a inserção das crianças no universo da escrita, com o qual elas já têm contato por meio de, por exemplo, cartazes que veem na rua, da televisão e das listas de compras que seus pais fazem. “Não podemos dizer que se inicia o trabalho com nomes na Educação Infantil, mas que se dá continuidade a esse processo de alfabetização, que já estava acontecendo no ambiente familiar, de forma mais intencional e sistemática”, explica Andréa Luize, coordenadora do Núcleo de Práticas de Linguagem da Escola da Vila, em São Paulo. E nada melhor que uma palavra estável – não importa onde a criança veja seu nome, ele sempre estará escrito do mesmo jeito – para começar esse trabalho.
As crianças, aliás, intuem a importância do nome mesmo sem saber escrever. A psicolinguista Ana Teberosky, no livro Psicopedagogia da Linguagem Escrita, destaca a precoce tendência infantil a marcar suas produções, ainda que em forma de garatuja. Quando chegam à escola, essas crianças passam a dividir o espaço com muitos outros pequenos. Por isso, percebem que o nome delas adquire muito sentido quando identificam seus objetos pessoais, como mochilas e lancheiras. “Socialmente, a escrita do nome ganha relevância”, diz Andréa Luize.

Do nome próprio à compreensão do sistema alfabético de escrita

Na realidade da sala de aula, como utilizar essa palavra cheia de sentido? Beatriz Gouveia, coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá e professora da pós-graduação em Alfabetização do Instituto Superior Vera Cruz, diz que o trabalho com os nomes próprios deve ter objetivos de aprendizagem diferentes, de acordo com a faixa etária dos alunos. “Nas turmas de 2 e 3 anos, por exemplo, a preocupação é fazer com que a criança reflita sobre as marcações dos pertences e sobre a sua identidade”, explica. Assim, ela se enxerga como um ser distinto dos outros que a rodeiam.
Já nas turmas de 4 e 5 anos, o nome passa a ser um contexto para a reflexão sobre o próprio sistema de escrita. À medida que vão se apropriando do sistema e percebendo suas regularidades, como quantidade e disposição das letras e combinação dos sons, os pequenos passam a utilizar esses conhecimentos adquiridos para descobrir e escrever novas palavras. “O nome próprio será um referencial importantíssimo para a leitura e escrita de outros textos e é o professor que propõe às crianças recorrer a essas fontes de informação para que resolvam um problema”, diz Diana Grunfeld, especialista em didática da alfabetização e membro da equipe de coordenação da Rede Latino-americana de Alfabetização.
Nos próximos dois blocos deste especial, você encontrará propostas de atividades e de intervenções que permitem às crianças avançarem em seus conhecimentos sobre a escrita.

As principais referências sobre o aprendizado da língua escrita

O trabalho com nome próprio na sala de aula já virou objeto de muitas pesquisas. No entanto, alguns estudos se tornaram referência para quem quer entender como se dá o processo de aquisição da língua escrita pelas crianças e qual o papel do professor nesse caminho. Abaixo, separamos três textos que podem contribuir muito para sua formação como professor alfabetizador. Clique na capa das obras para saber mais.

http://revistaescola.abril.com.br/nome-proprio/ Acesso em 15 de Maio de 2014.

Como trabalhar com projetos didáticos na alfabetização

 

Para ensinar a ler e escrever, é preciso elaborar projetos didáticos que realmente estimulem os alunos a refletir sobre a escrita e a leitura.

 

Produtos finais belíssimos necessariamente não sinalizam projetos escolares bem-sucedidos. Mais do que ficar contentes e orgulhosas do que fizeram, as crianças têm de alcançar os objetivos traçados pelo educador. Ele, por sua vez, tem de saber defini-los com clareza, priorizando a aprendizagem de todos e não só uma boa apresentação para a família e a comunidade. 

Nas turmas de alfabetização, uma das prioridades é ensinar a ler e escrever convencionalmente e de modo relacionado às práticas sociais, certo? Então, o foco principal de qualquer projeto precisa ser, obrigatoriamente, a análise e a reflexão sobre o sistema de escrita e a aquisição da linguagem usada para escrever. Aliás, trabalhar seguindo os parâmetros dessa modalidade organizativa contribui e muito para que a turma avance. Isso porque, ao definir um tema, o professor assegura o contato dos alunos com determinado grupo de palavras por um tempo. Isso permite criar a familiaridade com os termos e explorá-los bastante com o objetivo de construir novos saberes. Quanto maior a proximidade do estudante com o campo semântico trabalhado e a quantidade de informações adquiridas no contato com outras palavras, mais claras serão as chances de ele analisar as palavras e antecipar o que está escrito. No caso de um projeto sobre princesas, por exemplo, há a certeza de que vocábulos desse universo - como princesa, bruxa e castelo - serão recorrentes, assim como o gênero que costuma ser usado para apresentá-lo: o conto. Além do mais, articular propostas de leitura e escrita em um projeto cria muitas oportunidades para o grupo se vincular de maneira pessoal e compartilhada com fontes informativas (leia o projeto didático). 

O tema do projeto elaborado por Milca dos Santos, educadora da EE Professor João Caetano da Rocha, em Itápolis, a 365 quilômetros de São Paulo, foram receitas tradicionais de Festas Juninas. A atenção dela não estava focada em finalizar o livro com ingredientes e instruções para preparar quitutes de época. O objetivo era fazer com que os alunos do 2º ano aprendessem muito durante o percurso, avançando cada vez mais em direção à escrita alfabética (leia o quadro na página 3), tomando como apoio e referência as palavras próprias daquele assunto e a organização do gênero receita. Essa clareza lhe rendeu o título de Educador Nota 10 do Prêmio Victor Civita em 2009. "Milca soube organizar uma rotina que contemplasse o projeto sem deixar que as etapas de leitura e produção de texto passassem longe das situações de reflexão do sistema de escrita", explica Débora Rana, selecionadora do prêmio e formadora do Instituto Avisa Lá, na capital paulista.

> Ensino Fundamental 1

> Língua Portuguesa

> Alfabetização inicial


O projeto tem de estar a serviço das situações didáticas

Como se sabe, só se aprende a ler e escrever lendo e escrevendo, vendo outras pessoas lerem e escreverem, fazendo tentativas e recebendo ajuda, sempre guiado pela busca do significado ou pela necessidade de produzir algo que tenha sentido. Contemplar o produto final, contextualizando o ensino, é o mais comum em sala de aula ao desenvolver um projeto. Porém essa preocupação só faz sentido se o tema for usado para impulsionar as quatro situações didáticas específicas que proporcionam a análise e a reflexão sobre o sistema de escrita e a aquisição da linguagem usada para escrever. São elas: a leitura pelo professor, a leitura pelo aluno, a escrita pelo aluno e a produção de texto tendo o educador como escriba. Para refletir sobre a escrita, a criança precisa ser desafiada a tomar várias decisões: quais letras usar? Quantas? Em que ordem? Propor que os estudantes escrevam textos conhecidos de memória e leiam o material em voz alta permite ao professor notar como eles relacionam o que dizem com o que escrevem. "Quando apontam as letras que resolveram usar para representar determinados sons, eles revelam os conflitos que têm e o que já dominam", explica Débora. A leitura de textos memorizados ou de assuntos próximos da criança também faz com que ela identifique com mais facilidade o que está registrado e reflita.

Explorar a linguagem usada para escrever pressupõe analisar a língua dentro de sua função comunicativa. Trabalhos em que o professor faz o papel de escriba (as crianças ditam e ele escreve no quadro) favorecem o desenvolvimento de noções sobre o procedimento usado por escritores experientes: planejar, pensar no destinatário e revisar até que seja alcançada a versão final. 

Os estudantes também pensam sobre a linguagem própria da escrita quando têm a oportunidade de ler materiais de gêneros diferentes e notam suas características, reconhecendo as expressões usadas para começar e terminar um conto de fadas ou sabendo que nos jornais vão encontrar textos diferentes dos livros, que são as notícias e os artigos.

De olho em todos e em cada um

Milca dos Santos é professora da turma de 2º ano na EE Professor João Caetano da Rocha, em Itápolis. Ela leciona há 18 anos, desde que concluiu o Magistério. Anos depois, se graduou no Normal Superior e segue até hoje fazendo cursos de formação continuada. "A cada dia, tenho mais certeza de que sempre aprendo mais porque vejo como todos os estudantes, sem exceção, apresentam avanços mês a mês", comenta orgulhosa. 

Objetivo 
Organizar uma rotina de trabalho para que todos os alunos conquistassem, cada um no seu ritmo, avanços expressivos na aquisição das habilidades leitora e escritora: esse foi o desafio que Milca impôs a si mesma quando decidiu desenvolver o projeto didático sobre receitas de festas juninas. Com a maior parte dos estudantes ainda não alfabetizada plenamente e muitos deles filhos de pais analfabetos, ela montou maletas com livros, jornais, revistas e gibis para as crianças levarem para casa e tomarem apreço pelo material escrito. "Como elas entrariam em contato com o mundo dos textos e se interessariam por ele se não o conhecessem?", questiona. 

Passo a passo 
Para organizar as etapas do projeto e as demais atividades da rotina de alfabetização, no início do ano letivo Milca fez um ditado para diagnosticar o que cada criança já sabia sobre leitura e escrita. Ao analisar os registros um a um, concluiu que era importante reservar momentos diários para ler para os alunos e intervalos semanais para ser a escriba de textos ditados por eles e para propor atividades em que pudessem ler e escrever em duplas ou individualmente. Com base nesse esquema de tempo, ela determinou quando e quais atividades do projeto deveriam ocorrer. 

Avaliação 
Durante todo o processo, Milca acompanhou os avanços e as dificuldades de todos em uma série de situações avaliativas. A cada um ou dois meses, fazia novos diagnósticos e sempre propunha que os estudantes lessem e analisassem o que compreendiam em textos diversos. No momento em que era a escriba, observava as contribuições que as crianças traziam e as competências que demonstravam. "Anotava tudo o que ocorria nas aulas e fazia o histórico dos trabalhos das crianças. Assim, percebia os avanços e as necessidades, ajudando principalmente os que mais precisavam", diz a educadora. Ela também fotografou atividades para acompanhar o desempenho de todos.

Articular as atividades para ensinar melhor


O tempo - como descreve a educadora argentina Delia Lerner no livro Ler e Escrever na Escola: O Real, o Possível e o Imaginário - é um fator de peso na Educação: é escasso em relação à quantidade de conteúdos fixados no programa e parece nunca ser suficiente para comunicar às crianças tudo o que é importante. 

Por isso, trabalhar com turmas de alfabetização requer uma atenção especial para que os objetivos do projeto sejam cumpridos com clareza (o que significa fazer as crianças avançarem na escrita e na leitura, independentemente do produto final). É necessário ainda que a rotina seja organizada com clareza e variedade para fazer das aulas momentos muitos produtivos. Sim, os projetos não se bastam, embora contemplem dois eixos tão importantes, como a aquisição do sistema de escrita e a ref lexão sobre a língua. É fundamental, então, também organizar momentos de leitura e escrita diários (as chamadas atividades permanentes) e boas sequências didáticas (propostas de trabalho com ordem crescente de dificuldade). "Quando planejadas e trabalhadas de modo coordenado, as três modalidades organizativas proporcionam desafios diferentes, porém complementares", defende Débora. E mais: elas tornam possível a retomada dos conteúdos em diferentes oportunidades e com bases em perspectivas diversas.

Quer saber mais?
CONTATOS 
Débora Rana 
EE Professor João Caetano da Rocha, tel. (16) 3265-3140 
Milca dos Santos 

BIBLIOGRAFIA 
Estratégias de Leitura
, Isabel Solé, 194 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 54 reais 
Ler e Escrever na Escola: O Real, o Possível e o Necessário, Delia Lerner, 128 págs., Ed.
Artmed, 37 reais

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